“Formas de voltar para casa” é
o mais novo romance do aclamado escritor chileno Alejandro Zambra, lançado pelo
selo Tusquets, da editora Planeta de Livros do Brasil. A obra já foi agraciada com duas premiações literárias: o
Prêmio Altazor e o Prêmio do Conselho Nacional do Livro como melhor romance de
2012 no Chile. Em “Formas de Voltar para casa”, com uma narrativa envolvente,
Zambra trata de um tema pesado: a ditadura de Pinochet no Chile e os reflexos
desse período na vida de diversas famílias e de famílias diversas. De forma
fantástica, o autor mostra, na obra, as muitas vezes em que o narrador precisou
voltar para casa: ao fim de um terremoto ou às várias voltas à casa dos pais.
A
história vai misturando memórias da infância do narrador, que vão retornando
juntamente com seu reencontro com a personagem Claudia, com os fatos presentes
de sua vida e assim, o narrador vai escrevendo um romance, ao mesmo tempo em
que reconstrói, em sua mente, a verdadeira história dos tempos de chumbo no
Chile. Em determinado momento, o narrador diz que era “filho de uma família sem
mortos”, enquanto vários de seus amigos, incluindo Cláudia, tiveram a vida
deles e de suas famílias devastadas pela crueldade da ditadura de Pinochet. O
narrador, ao reconstruir suas memórias, se dá conta de que só tem uma família
sem mortos porque seus pais eram de direita e, no fundo, idolatravam Pinochet.
Ao
ligar os fatos históricos à vida pessoal das personagens, Zambra deixa o leitor
arrepiado em alguns trechos da obra, como, por exemplo, quando Cláudia conta
que sua família a levou para ver o Chespirito (Roberto Bolaños) no Estádio
Nacional, em 1977, num ato de amor à
filha, já que sabiam que o Estádio Nacional era usado como local de tortura
naqueles tempos sombrios, onde muitos de seus companheiros foram maltratados
pelo sombrio regime. O livro é também uma linda viagem pela capital do Chile,
Santiago, passando pela Paseo Humanada, o coração da cidade e por dose frias de
Pisco Sour.
Um
detalhe que chama a atenção na obra são os ciclos em que ela se encerra: a
narrativa inicia e termina com a ocorrência de terremotos, que realmente
aconteceram no Chile, nos anos de 1985 e 2010 e, com a genialidade que pertence
somente aos grandes escritores, a narrativa também começa e termina com
governos menos humanitários, havendo aí uma grande metáfora, que talvez passe
despercebida para alguns leitores, entre os terremotos naturais e as duras
formas de governo.
A
difícil relação entre pais e filhos, que perpassa a obra, leva o narrador a
dizer, no final, que “às vezes precisamos nos vestir com as roupas dos pais e
nos olhar demoradamente no espelho”, levando o leitor a uma reflexão profunda
sobre suas próprias relações familiares e sobre a familiaridade dessas relações
com a política e os direitos humanos. Não é à toa que Zambra é considerado um
dos mais relevantes autores da literatura latino-americana contemporânea, e
“Formas de voltar para casa” deixa isso ainda mais claro.
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