segunda-feira, 20 de julho de 2020

Como um livro que tem um título que nos leva a uma ação tão corriqueira, simples e mecânica pode nos fazer refletir tanto sobre nossas vidas? “Arrume a sua cama”, de William H. McRaven, da Editora Planeta de Livros Brasil, tem esse poder. Afinal, o primeiro de todos os passos, para começar um dia, é levantar-se da cama. Se a arrumamos, isso significa que já cumprimos uma missão e que já demos um dos passos que daremos ao longo do dia, da semana, do mês, do ano e da vida. Parece exagero pensar assim, mas é o que o autor propõe durante todo o livro: um exercício de autorreflexão sobre como deixamos uma caminhada inteira para trás apenas porque não demos o primeiro passo...

Dividido em 10 capítulos que, na verdade, são 10 pequenas lições que cada um de nós pode entender como melhor se aplicar em nossa vida, “Arrume a sua cama” é de leitura fácil, rápida e fluida, que nos acompanhará quando fizermos um questionamento ou quando perdermos a motivação de viver. Cada capítulo começa com a frase “Se você quer mudar o mundo...”, que nos dá uma dica do que será tratado naquela lição. Precisamos apenas nos lembrar que o primeiro mundo a ser mudado é o nosso próprio e que ele começa dentro de nós.

Os capítulos parecem ter sido intercalados propositalmente, pois, logo depois de um que equivale a um tapa da realidade, vem um que nos afaga e nos põe no colo sem, no entanto, nos mimar cegamente. William H. McRaven atua como uma mãe que está ensinando o seu filho que a vida será dolorosa em alguns momentos, mas que tudo depende de como você olha para aquela situação e a enfrenta. O ralado no joelho, do tombo da bicicleta, é o que nos fortalece a não querer cair mais. O autor deixa claro que o que nos move é, acima de tudo, o que preferimos enxergar e como decidimos lidar com aquilo que enxergamos. Nossas decisões apenas a nós mesmos cabem.

Em tempos tão sombrios como o que estamos passando, é um alívio encontrar aconchego nas pequenas ações que realizamos durante o dia. Elas equivalem, como o autor coloca, a enfrentar tubarões, a avaliar pessoas pelo tamanho do seu coração e a entender que a vida segue, mesmo quando achamos que não teremos mais forças para enfrentá-la. Ao trazer casos como o de Helen Keller, a menina que era surda e cega e que não se rendeu às suas deficiências, McRaven bate em nossos ombros, aponta o dedo para o horizonte e sussurra em nossos ouvidos: “Olhe lá! Arrume a sua cama e vá descobrir o que a vida lhe reserva. Você irá se surpreender!”

terça-feira, 7 de julho de 2020

Conforme prometemos, segue a resenha do livro incrível de Agatha Christie "Assassinato no campo de golfe", em um relançamento lindo da Globo Livros!📖🥰
Você pode adquirir o livro em nosso site:
Ao terminar a leitura de mais um livro de Agatha Christie, mesmo que seja o seu primeiro, você logo entende o motivo pelo qual ela é conhecida como a dama do crime. Com mais de 4 bilhões de exemplares vendidos de suas obras, Agatha só perde, em vendas, para a Bíblia e para Shakespeare. Mais um de seus grandes sucessos, o livro “Assassinato no campo de golfe” é uma obra-prima do gênero policial, principalmente se considerarmos a data em que foi escrita, 1923.
Sendo o terceiro livro da autora e tendo se passado quase 100 anos de sua primeira publicação, essa obra poderia ter sido escrita hoje, já que a brilhante história, vivida pelo emblemático detetive Hercule Poirot e seu companheiro Hastings, é de tirar o fôlego do leitor. O mistério começa quando Poirot recebe um pedido de ajuda vindo da França, de um milionário chamado Renauld. Chegando à França, encontra seu contratante morto. A partir daí, inicia-se uma investigação, na qual Poirot, com seu ar de superioridade e seu indiscutível carisma, vai desvendando todos os detalhes do crime e surpreendendo todos no final, como sempre. A genialidade da autora é tão grande, que nós, leitores, somos induzidos a acreditar em, pelo menos, quatro desfechos diferentes para a história.
Os leitores mais atentos percebem, também, na narrativa de Agatha, uma crítica à ideia que se tinha de como deveria agir uma mulher, na época. Em uma das passagens, a personagem Cinderela diz à Hastings, o narrador, que a ideia que ele tem de uma mulher é de alguém que se senta em uma cadeira e grita quando vê um rato e diz que pensar dessa forma é pré-histórico. Vemos, nesse trecho e em vários outros da obra, uma crítica à ideia da mulher submissa e passiva, estereótipo feminino esperado na época.
Agatha Christie vai além: ela consegue emplacar uma detetive mulher, Miss Marple, para contrapor a Hercule Poirot, numa época em que o cenário policial era dominado pelos homens. No final, ler Agatha Christie sempre vale a pena e se revela um grande presente, seja pelo mistério das histórias, que fazem com que o leitor não tire os olhos do livro até chegar ao final, seja pelas pitadas de críticas ao machismo, que, muitas vezes, passam despercebidas em sua obra, mas que são extremamente relevantes.