terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

A menina que roubava livros.

“A menina que roubava livros” é aquele tipo de obra que traz uma gama de sentimentos bons ao leitor e colore seu dia. Uma narrativa, de certa forma, ousada, que poderia ter sido ordinária caso Markus Zusak não tivesse sensibilidade suficiente para apresentar-nos um narrador peculiar: a Morte, que sabe que seu “emprego” é necessário, mas que não gosta dele em alguns momentos, principalmente quando tem que buscar almas puras.
Logo no início, a Morte já anuncia que não importa o fim da história. Afinal, todos sabemos o que esperar não apenas do romance, mas da própria Vida. O que realmente importa é o que fazemos de nós mesmos e de nosso maior presente, chamado Vida, até que sejamos levados. Para demonstrar como a Vida deve ser celebrada diariamente, a Morte narra as aventuras e desventuras de Liesel, uma pequena órfã curiosa, adotada por um casal, em plena Segunda Guerra Mundial, na Alemanha nazista.
Os pais da menina que ama ler não poderiam ser mais diferentes um do outro do que são: enquanto seu pai tem a leveza e a alegria no coração, sua mãe encontra motivos para
ser cada vez mais rígida e mais séria. O que os une é esse Amor infinito e universal pelo ser humano. Além de adotarem Liesel, eles abrigam um judeu, Max, em seu porão, e dividem o pouco que têm com ele, correndo o risco de serem mortos pela SS. Entretanto, para eles, uma vida vale mais que o risco que correm e, ainda que cercados por tanta destruição e desamor, o casal segue duas lições do Talmud: “aquele que salva uma vida salva o mundo inteiro” e “a máxima sabedoria é a bondade”.
Liesel, a ladra de livros, rouba-os com o consentimento velado da dona deles, como quem rouba pedacinhos do Tempo para sobreviver em meio ao caos. Nos livros, estão seu refúgio, seu lar, sua esperança. Além de com eles, a menina encontra um pouco de paz com Max e Rudy, seu vizinho e amigo. Na amizade com os dois, reside outro tipo de Amor também: aquele que só entende quem já sentiu que seu lar eram pessoas, e não uma casa.
Durante toda a narrativa, a Morte usa seus olhos gentis para mostrar ao leitor que cada dia deve ser vivido plenamente independentemente das condições em que estamos. Uma corrida na neve pode equivaler ao prêmio máximo de uma loteria; saber que seu amigo está vivo é infinitamente mais precioso que um prato de comida; amar o próximo como nos foi pedido, sem julgamentos e sem preconceito, é mais valioso do que qualquer quantia de dinheiro que possamos ter; entregar uma fruta a quem não come há dias significa a esperança de continuar.
Em “A menina que roubava livros”, a Bondade e o Amor não soltam a mão um do outro e conduzem o leitor, com seu coração aquecido, à reflexão de nossos gestos e atos e ao modo como eles podem afetar a todos em nossas vidas. Cada pequeno gesto feito por nós é carregado daquilo que realmente temos dentro de nossos corações. No fim, minutos antes de sermos buscados, ainda teremos a chance de olhar para trás e ver quais tipos de rastros nossos passos deixaram... Hoje, quinze anos depois que o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto foi instituído, mais do que nunca, precisamos pensar que tipo de pessoas somos e que tipo de mundo queremos. Que nossos corações sejam invadidos pela mesma Bondade e pelo mesmo Amor que a obra de Zusak nos traz...

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