Renegado pelo pai adotivo e alcoólatra inveterado, Edgar
Allan Poe possivelmente também sofria de doenças mentais que, na época, não
foram tratadas e nem sequer descobertas. Sua vida, permeada pela tragédia e
pelos finais infelizes, é objeto de curiosidade e geralmente ligada à sua obra
por vários estudiosos. A maldade encontrada em sua obra é atribuída, por
muitos, ao seu frágil estado mental, que se deteriorou muito rapidamente devido
à bebida. Edgar Allan Poe é o epíteto de uma alma atormentada e do poder
literário que ela pode ter.
Em meio a tantas histórias de horror e de terror, o que mais
assombra nos contos de Poe é o fato de todos mostrarem que a maldade humana não
é apenas possível, mas que, em algum momento, pode se transformar em algo natural
também. Seus mais famosos contos trazem personagens que foram emparedados vivos,
ou que foram mortos devido a um olho com catarata, ou que sofreram a vingança
de um suposto amigo, ou que foram enterrados vivos, ou que se tiveram seus
dentes arrancados a marteladas, ou que talvez tenham cometido incesto. As mulheres
de seus contos nunca são saudáveis e sempre levam o homem a algum tipo de loucura
ou crime, cometido no calor de uma situação ou depois de muito tempo sendo
assombrados por ideias oníricas.
Seus poemas também trazem o tormento da alma e não permitem
que o leitor os termine sem aquela sensação de ter o coração afundando ou de sentir
arrepios na espinha. “O corvo” transformou-se em uma ode à angústia e ao medo e,
juntamente com “Annabel Lee”, traz ao leitor um outro lado de Poe, mas que não
é menos aterrorizante que o Poe das narrativas. Os contos “O gato preto” e “O
coração denunciador” – também encontrado como “O coração delator” – sussurram ao
leitor a dor sentida por um autor que jamais foi compreendido e que, por isso,
tornou-se um gênio da escrita e da crueldade.
Aos 40 anos, Poe deixou o mundo e um legado: histórias que
jamais seriam esquecidas por sua perversidade e pelo efeito duradouro que elas causam
em seus leitores. Ao partir, Poe levou com ele toda a dor que ele carregou
durante a sua vida, mas não sem antes macular o mundo com a sua ideia de que o
ser humano não tem salvação e que o amor, quando existe, faz com que adoeçamos.
Se Poe o tivesse encontrado, hoje, talvez, não teríamos as mais bem escritas
histórias de terror psicológico do século XIX. Entretanto, isso é apenas uma
especulação, pois Edgar Allan Poe já está no inconsciente coletivo, com todas
as nuances da maldade humana, que variam de uma machadada na cabeça a uma na
alma, sendo igualmente destruidoras. Jamais saberemos o que teria sido dele se
ele tivesse sido realmente amado...
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