segunda-feira, 19 de outubro de 2020

 

Renegado pelo pai adotivo e alcoólatra inveterado, Edgar Allan Poe possivelmente também sofria de doenças mentais que, na época, não foram tratadas e nem sequer descobertas. Sua vida, permeada pela tragédia e pelos finais infelizes, é objeto de curiosidade e geralmente ligada à sua obra por vários estudiosos. A maldade encontrada em sua obra é atribuída, por muitos, ao seu frágil estado mental, que se deteriorou muito rapidamente devido à bebida. Edgar Allan Poe é o epíteto de uma alma atormentada e do poder literário que ela pode ter.

Em meio a tantas histórias de horror e de terror, o que mais assombra nos contos de Poe é o fato de todos mostrarem que a maldade humana não é apenas possível, mas que, em algum momento, pode se transformar em algo natural também. Seus mais famosos contos trazem personagens que foram emparedados vivos, ou que foram mortos devido a um olho com catarata, ou que sofreram a vingança de um suposto amigo, ou que foram enterrados vivos, ou que se tiveram seus dentes arrancados a marteladas, ou que talvez tenham cometido incesto. As mulheres de seus contos nunca são saudáveis e sempre levam o homem a algum tipo de loucura ou crime, cometido no calor de uma situação ou depois de muito tempo sendo assombrados por ideias oníricas.

Seus poemas também trazem o tormento da alma e não permitem que o leitor os termine sem aquela sensação de ter o coração afundando ou de sentir arrepios na espinha. “O corvo” transformou-se em uma ode à angústia e ao medo e, juntamente com “Annabel Lee”, traz ao leitor um outro lado de Poe, mas que não é menos aterrorizante que o Poe das narrativas. Os contos “O gato preto” e “O coração denunciador” – também encontrado como “O coração delator” – sussurram ao leitor a dor sentida por um autor que jamais foi compreendido e que, por isso, tornou-se um gênio da escrita e da crueldade.

Aos 40 anos, Poe deixou o mundo e um legado: histórias que jamais seriam esquecidas por sua perversidade e pelo efeito duradouro que elas causam em seus leitores. Ao partir, Poe levou com ele toda a dor que ele carregou durante a sua vida, mas não sem antes macular o mundo com a sua ideia de que o ser humano não tem salvação e que o amor, quando existe, faz com que adoeçamos. Se Poe o tivesse encontrado, hoje, talvez, não teríamos as mais bem escritas histórias de terror psicológico do século XIX. Entretanto, isso é apenas uma especulação, pois Edgar Allan Poe já está no inconsciente coletivo, com todas as nuances da maldade humana, que variam de uma machadada na cabeça a uma na alma, sendo igualmente destruidoras. Jamais saberemos o que teria sido dele se ele tivesse sido realmente amado...

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário