segunda-feira, 8 de junho de 2020



São cerca de 20 minutos de leitura que nos deixam uma grata reflexão: quem nos tira da solidão? Qual voz nos guia de volta a nós mesmos? A Planeta de Livros Brasil lançou cinco contos durante este período de distanciamento social e de pandemia que nos assolam. Um deles é “O dono do tempo”, que nos dá a mão e nos retira do chão, quando nos encolhemos e pensamos que ali pertencemos.
No conto de Bruno Fontes, as vozes, uma música, os potinhos de comida congelada e algumas mensagens são suficientes para mudar o curso de um dia e de um livro. O narrador abre a porta de um armário, com um espelho gigante, ao convidar o leitor para encontrar sua própria alma junto com ele. Aquele que nunca passou por uma das situações cotidianas narradas por alguém que não se sente bem durante este período ainda assim entenderá que são as ninharias do dia a dia que nos abalam ou nos elevam.
Nosso narrador sem nome se revela nu do início ao fim do conto. Saindo de um banho, que era mais para a alma do que para o corpo, ele já deixa claro que a escuridão de seu ser o sufoca e quase o mata. Durante o conto, que nos cega com os detalhes familiares de uma vida que também levamos, o narrador apenas quer ouvir uma voz: a voz que o tirará do chão. Essa voz pertence a alguém que ele não consegue rotular como amiga ou namorada, porque seu papel habita o meio das duas caixinhas. Para encontrar essa voz, o narrador se aninha nos braços de Clarice Lispector e de Gilberto Gil, mas também não encontra o que procura.
Até que ele-narrador, também conhecido por “eu-leitor”, tem o que deseja, são a voz de sua mãe e um “eu te amo” em forma de potinhos de comida congelada que lhe dão a certeza de que ela estará ali para protegê-lo, independentemente da idade. Quando ele tem essa epifania, a voz que ele deseja retorna e o ajuda a sair do torpor, que o fez dormir no chão da sala enquanto o telefone carregava.
Tudo que nosso narrador precisa entender é que tudo ficará bem e que a solidão não é parte dele, mas apenas um visitante inconveniente. A partir do momento que ele enxerga isso, seu dia muda e o sol volta a esquentar seu coração. Nosso narrador sofre como nós, à espera de uma mensagem, com potinhos de amor, cercado por lampejos de solidão. E, assim como ele, nós também encontraremos nosso sol. Basta ouvirmos as vozes e pensarmos nos potinhos...

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